Uma vez, tive um gato, numa outra vida, numa outra história...
Um gato... Preto, pequeno ainda, corpulento, ao cruzar o vão da escada, de uma casa que deixou de ser...
Recolhido num colo emprestado, rendi-me ao ar meigo e dado. Ainda hoje penso que as coincidências talvez não existam mesmo. Abandonado, à procura de um lar, durante aquele tempo não sei quem mais precisou de quem, ou quem mais cuidou de quem. O meu fiel amigo, a coisa mais patusca, desengonçada e sôfrega, despreocupada e generosa.
Existe agora algures, imagino-o por vezes, e personifico-o. Queria-o com memoria humana, para que não se esquecesse de mim e para que soubesse do tanto que lhe quero.
Quantas vidas se vive até chegar aqui? É estranho pensar quantos ontens passaram por nós e a facilidade com que nos esbarramos com eles ao transpor a porta.